Reflexão sobre a Assembléia de 2016 e um olhar juntas para o futuro

Carmen SammutReflexão sobre a Assembléia de 2016 e um olhar juntas para o futuro

Este dia que fez o Senhor é um dia de alegria. Alegria pelos 50 anos de vida da UISG. Alegria por termos encontrado entre nós, irmãs de todas as línguas, povos e culturas para rezar, escutar, para compartilhar o que nos é caro, para estar atentas ao sopro do Espírito. Alegria de ser capazes de enviar perguntas ao nosso querido Papa Francisco que fala-nos desde o mais profundo do seu coração.

Sim, é um dia de alegria, o último dia em que todas nós ainda estamos reunidas. Podemos agora escrutinar o horizonte para ver o novo que está nascendo em nós e entre nós, a partir da nossa participação nesta semana.

Nesta última manhã, imagino a todas nós diante de uma porta estreita. O Senhor está perto daquela porta. Ele convida a cada uma de nós pelo nosso nome para atravessar aquela porta. Depende de cada uma de nós em aceitar para entrar ou ficar fora. Somos completamente livres. Para entrar, é preciso aceitar de vestir o vestido de núpcias. O que pode simbolizar este vestido? Este é o vestido que temos tecido aqui, durante esta Assembléia. Um vestido colorido com desenhos de ideias que surgiram, de situações que descrevemos, dos sonhos que atrevemos a expressar, das transformações que tiveram lugar nas nossas mentes, nos nossos corações e nas nossas vontades, de desafios que nos empurram para a frente, das chamadas do Espírito que temos ouvido nos nossos corações. Qual é o bonito vestido que agora o Senhor dá de presente à cada uma de nós? Ousamos vestir-lo para entrar na festa? Espero com todo o meu coração que todas nós queremos entrar juntas no futuro que Ele nos prepara.

Nós podemos tomar o tempo para imaginar este vestido, e apreciar a  beleza da sua confecção. (Podemos tomar alguns minutos de silêncio para isso, e depois compartilhemos uma palavra com a nossa vizinha)     

Através da porta, vejo um jardim bem preparado para festejar o jubileu de ouro da UISG. O Senhor nos dá os parabéns pelos nossos belos vestidos e pela coragem de aceitar o desafio e o convite para entrar pela porta estreita. “Feliz aniversário!”

No jardim, donde certas partes são bem floridas e outras, em vez, são desertos, eu vejo uma multidão de pessoas. Eu pergunto: quem são elas? Como é que estão convidadas à esta festa? Elas não são o tipo de pessoas que nós teriamos convidado para fazer a festa. Eu mesma comecei a ter medo de algumas de entre elas. O Senhor olha para mim e disse-me: “Não tenhas medo. Elas são minhas amigas. Eu queria que conhecesses as minhas amigas, aquelas que estão muito perto do meu coração. Eu quero que elas sejam os vossos parceiros, que vocês façam um pacto com elas.” Confesso que meu coração não estava muito preparado para isso, e o Senhor ofereceu-se para emprestar-me os seus olhos e o seu coração. Eu aceitei de bom grado.

Eu vejo com novos olhos e reconheco as pessoas e as situações do nosso planeta, de quem falamos durante esta semana. Elas estavam esperando-nos.

Elas foram as primeiras em chegar ao jardim. Todas essas pessoas – homens, mulheres, crianças, de todas as línguas e nações, de todas as religiões e condições sociais, que vivem em situações #UISGPlenary 2016precárias de pobreza, de guerra, de tráfico humano, da falta de água e comida, todas estavam vestidas com vestidos de tecidos de várias cores. Olhando mais de perto, estes vestidos cada um contava uma história, uma situação de vida, um pedido de ajuda. Elas mostraram claramente como as suas situações estavam relacionadas com às nossas decisões, com o nosso modo de vida, com a maneira como tratamos a nossa Terra e as consequências que tem sobre elas, as mais vulneráveis. Finalmente, eu podia ver que cada pessoa tinha a sua história e também fui vista por elas, porque o meu vestido também refletia a minha história de grandeza e de egoísmo, de aberturas e de encerramentos, de acollhida e de exclusão. Eu senti-me muito vulnerável diante delas.

São elas que nos convidam para sentar e ouvir e compreender para mais além dos seus gritos de aflição, da sua dignidade inviolável, da imagem de Deus colocada como um selo sobre os seus corações. E elas colocaram os nossos ouvidos sobre os seus corações a fim de entendermos a sua própria música. Porque cada pessoa é uma missão, e cada pessoa tem a sua música, que o Espírito colocou no seu coração. Nós sentimo-nos uma com elas. Estávamos entre iguais.

“Vocês quereis ser parceiros conosco para criar o futuro que Deus nos dá?” Elas perguntavam-nos.  “Vocês quereis trabalhar em conjunto conosco para criar um novo céu e uma nova terra, em que cada pessoa e toda a natureza são respeitadas?”

Então comece agora. Você não deve perder mais tempo. Como é que vamos a assumirlo? O que podemos fazer? Eu estava um pouco perdida. Em seguida, uma jovem disse-me: “Por que não colocamos juntos todos os nossos talentos, as nossas experiências, o nosso saber-fazer e, especialmente o nosso saber-estar, os nossos desejos, os nossos sonhos? Não porque somos oprimidas, molestadas, abandonadas, esquecidas, que-não-se-conta-conosco … , significa que não temos nada para compartilhar. Se colocarmos juntos tudo o que temos e tudo o que somos, temos a certeza de que juntos podemos criar um mundo novo. Assim que todos e todas temos o desejo de doar-nos e partilhar os nossos recursos.”

Lembremo-nos que esta é a mesma provocação que recebemos do Papa Francisco para despertar o mundo através da criação de lugares onde se vive a lógica evangélica da doação, da fraternidade, de acolher a diversidade, de amor mútuo.

Como podemos viver esta chamada nos nossos espaços de vida? O que devemos mudar? Como vivificar as nossas constelações para que, juntas, sejamos verdadeiros parceiros com os pobres abandonados na nossa região? O que devemos fazer para que a nossa participação na criação de uma nova terra e de um novo céu seja uma realidade? Com quem e como devemos trabalhar para que a nossa Terra seja respeitada? (Um pequeno momento de silêncio e tempo para a partilha na mesa)

Ao falar das constelações, comecei a pensar sobre a UISG e seu futuro. É bonito comemorar 50 anos de existência, mas qual é o futuro que queremos construir juntas para a nossa União?

A missão da UISG é descrita assim: “como uma organização internacional enraizada em Cristo e representando as Congregações das Religiosas no mundo, a UISG procura testemunhar e proclamar a identidade da Vida Religiosa Apostólica em toda a sua diversidade.

Através da construção de solidariedade global e abrindo novas fronteiras, nós animamos, apoiamos e estimulamos as Superioras das Religiosas para serem voz profética e testemunhas na Igreja e no mundo.

A missão da UISG é construir pontes a fim de reduzir as distâncias e fronteiras e dar a oportunidade aos membros de se comunicarem entre elas, de criar uma comunidade e de viver em comunhão. A sua finalidade é divulgar e fazer comprender o significado da vida religiosa”.

Como nos comprometemos a viver melhor esta missão no século 21?

#UISGPlenary 2016Juntas, como União, de que maneira testemunhamos e proclamamos a identidade da vida religiosa apostólica feminina em toda a sua diversidade? Isso é feito nas nossas reuniões a cada três anos, e nas reuniões de Delegadas a cada dezoito meses, mas, além disso o que mais temos que fazer? Como mostrar que existimos não apenas como unidades separadas, mas também como um todo? Como viver a comunhão? Como tomar ainda mais o nosso lugar na Igreja e no mundo, o nosso lugar de mulheres e de religiosas?

Tecendo o futuro, vamos apoiar como uma voz colectiva, as religiosas já presentes nas Nações Unidas para que elas apoiem em nosso nome, as causas que temos no coração.

O novo Executivo deve continuar a tecer novas relações com os dicastérios e outros organismos da Igreja. Ele terá que pensar como mostrar a nossa cara colectiva através das conferências de imprensa, participando nas discussões, nas mesas redondas, para garantir que o mundo possa saber que nós existimos e que as experiências nas bases de centenas e milhares de irmãs ao serviço da Igreja e do mundo possam ser conhecidas.

Vimos, por meio do plano estratégico que um dos nossos pontos fracos era a comunicação. Desde então, temos envolvido Patrizia Morgante como responsável pela comunicação, e nós adaptamos o website para claramente meter o material que nos pode interessar à todas. Cabe agora a nós, como membros, e como constelações, de partilhar as nossas experiências vividas, de fornecer informações para alimentar este website. Claro a comunicação deve ser uma estrada de duas pistas.

Nós já começamos e apoiamos projectos conjuntos, e às vezes com a USG. Eu penso na Solidariedade com o Sudão do Sul (SSS) e, recentemente, o projecto de Sicília para os imigrantes, que ainda está em sua infância. Foi feito um apelo para continuar a apoiar estas iniciativas. Estes projectos são como faróis, e sonhamos que respondendo às chamadas locais, se podem organizar projectos semelhantes, entre institutos religiosos nos vários países do mundo. Nós sabemos que sozinhas, cada uma pode fazer um pouco, mas juntas podemos ir muito mais longe. Para que sejamos criativas nos nossos contextos.

Existem também redes que precisamos de fortalecer.

Existe a rede Talitha Kum, que já está funcionando durante vários anos. Somos desafiadas a realmente trabalhar contra o tráfico de seres humanos e de participar nesta rede. Organizamos uma rede de irmãs canonistas, pronta para ajudar-nos através de consultas apropriadas, e nós vemos a necessidade de uma rede de irmãs teólogas para ajudar-nos a reflectir sobre a vida consagrada hoje e amanhã. Pedimo-vos os nomes das irmãs teólogas do vosso Instituto.

Um apelo final. Sabemos que existem algumas congregações que são de meios muito pobres. Posso dizer-lhes que há vários anos, se a minha congregação não tinha sido financeiramente assistida por outras congregações, não teríamos sobrevivido. A nossa solidariedade também pode ser expressada desta forma.

Sabemos da devastação do nosso planeta que afecta especialmente sobre os pobres. Somos desafiadas a tornar-nos mais conscientes de nossas acções, e talvez até mesmo de mudar o nosso estilo de vida. Queremos que todas juntas atrevemo-nos a falar, a sensibilizar as pessoas e as autoridades de nossa comunidade para deixar um planeta habitável para as gerações futuras. Vamos juntar as forças para esta luta.

Que papéis podem jogar as constelações para fazer da UISG um lugar onde a vida é sempre mais de solidariedade global? Compartilhemos as nossas ideias. Eu acho que nós não temos tempo para uma partilha colectiva, então eu sugiro que vocês dêm as suas ideias para a vossa delegada. Ela vai trazê-las para a reunião de delegadas na segunda-feira.

Durante esta semana, temos feito progressos na tecelagem dos nossos relacionamentos, do nosso conhecimento de vários contextos, de solidariedade. Juntas nós tecemos uma nova página na nossa história. Que possamos, dia após dia, continuar juntas à tecer a solidariedade global para a vida do nosso mundo e dos nossos contemporâneos. “Não façamos sozinhas o que podemos fazer juntas”, disse a secretária executiva numa entrevista.

Obrigada pela vossa participação nesta reunião, pelo vosso empenho no seio da UISG, como membros e como delegadas. Agradeço-vos pela vossa confiança.

Ir Carmen Sammut, MSOLA

#UISGPlenary 2016: documentos-relatos

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