QUANDO VOCÊ DEIXA A VIDA RELIGIOSA, DEPOIS QUE?
ACOMPANHANTES NO PROCESSO DE INTERRUPÇÃO DA FORMAÇÃO RELIGIOSA
Boletim UISG
Ir. Chinyeaka C. Ezeani, MSHR
Chinyeaka C. Ezeani, é uma Irmã Missionária do Santo Rosário, serviu como formadora na Nigéria por algum tempo e foi eleita para servir na equipe de liderança da Congregação. Actualmente vive em Dublin.
Este artigo foi publicado em Religious Life Review, Volume 55, Número 300, Setembro / Outubro de 2016.
Original em Inglês
Introdução
Em todas as partes do mundo, as pessoas continuam a procurar ser admitas nos seminários e nas casas de formação religiosa. Geralmente, isso é a resposta dum indivíduo à chamada que percebeu para abraçar a Vida Sacerdotal ou Religiosa. Muitas vezes, o desejo para abraçar este modo de vida é suscitado pelo entusiasmo e pela proclamação de ideais sobre o que a vocação religiosa implica. Nos últimos anos, em algumas partes do mundo, o número dos que aspiram à vida religiosa diminuiu consideravelmente. A causa disso, com o objectivo de atrair e recrutar potenciais candidatos, foram lançados maiores investimentos e diversos tipos de empreendimentos criativos. Parece que muito se escreveu sobre o trabalho do fomento e recrutamento de vocações; mas eu ouso dizer que parece também que não se escreveu o suficiente sobre o acompanhamento e a preparação das pessoas para a interrupção do seu actual processo de formação. Em outras palavras, são necessárias mais discussões e reflexões sobre como acompanhar humanamente e criativamente as pessoas que, depois de terem entrado na formação, chegam à um ponto em que os indicadores começam a demostrar a necessidade de buscar outros caminhos na jornada Cristã que não sejam os da Vida Religiosa ou do Sacerdócio.
Normalmente, na conclusão do programa de formação, são planejadas lindas liturgias e celebrações sociais para ritualizar e festejar o dia da profissão de votos ou da ordenação sacerdotal. A comunidade, a família dos candidatos, os amigos e simpatizantes são reunidos por este feliz evento. No entanto, por vezes acontece igualmente, que no curso do programa de formação, alguns candidatos livremente fazem a escolha de abandonar. E outras vezes, tais decisões podem vir da congregação através dos formadores que estão directamente envolvidos com o seu acompanhamento pessoal. A cena evangélica que vem à mente é do jovem que se ofereceu para seguir Jesus onde quer que fosse. Jesus, no entanto, com sabedoria, declinou a sua oferta: “As raposas têm tocas e as aves do céu têm ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça” (Lc 9, 57-58). Também não há dúvida de que existe uma luta por parte dos ‘convidados’ ou ‘chamados’ como se pode ver no jovem que Jesus convidou para segui-Lo: “Permite-me ir primeiro enterrar meu pai”. “Eu te seguirei, Senhor, mas permite-me antes despedir-me dos que estão em minha casa” (Lc 9, 59; 61). Uma pessoa que percebe a chamada à vida religiosa ou ao sacerdócio e está aberta a explorá-la, pode descobrir ou ser ajudada ao longo do caminho para ver que essa não é necessariamente a sua chamada. Isso muitas vezes pode ser muito difícil e emocionalmente pesada para ambas as partes.
Embora esta seja uma realidade da situação da formação religiosa, é interessante notar que não há muita literatura sobre esse aspecto crucial da formação religiosa que esteja prontamente disponível. Considerando a importância de tal ‘questão pastoral’, não se sabe quanta atenção que os reitores do seminário, bispos, líderes de congregações religiosas e formadores têm sobre a questão de como as pessoas que saem do seminário ou das casas de formação, são adequadamente preparadas e acompanhadas para abandonar, viver alegremente, e ainda continuar a prática de sua fé. Provavelmente, o número de candidatos que abandonam o programa de formação pode parecer geralmente menor em comparacção com o número de pessoas que continuam. Mesmo assim, de todas as formas possíveis, os números aparentemente menores, precisam de estar bem preparados e acompanhados no processo muitas vezes assustador de readaptacção ao ‘mundo’ que deixaram para entrar no seminário ou convento. Porque ninguém é uma entidade isolada, cada um com sua própria viagem única da vida, tem efeitos sobre a vida de muitas outras pessoas – família, amigos, Igreja e a sociedade em geral. O seminário ou convento de que faziam parte não está excluído desta rede de interconexão.
O Foco do Artigo
Este artigo aponta primeiro à necessidade de constante atenção ao Espírito no acompanhamento da formação e no processo de discernimento. Também explora as possíveis razões para persuadir os candidatos a abandonar o programa de formação e continuar sua jornada cristã em outros lugares. Isso abrange desde os candidatos nos estágios iniciais de formação, até aqueles que já são professos, mas ainda com votos temporários. Contudo, é preciso enfatizar que, por causa da complexidade das pessoas e das situações , não sempre se podem compreender todas as razões. Para ajudar os diretores de formação, a atenção será dada para aquilo que eles poderiam esperar quando uma pessoa abandona o seu programa. A consciência do que se espera pode ser uma boa tática antecipatória para ajudá-los a lidar melhor. Finalmente, serão propostas algumas estratégias sobre como acompanhar com sensibilidade aqueles que estão no processo de saída. Isso sem dúvida não pode ser exaustiva. São simplesmente indicadores e sugestões. Os diretores de formação descobrirão o que poderia ser adequado e melhor à cada indivíduo e situação em particular, já que cada pessoa é única e idêntica a nenhuma.